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Gaudêncio Frigotto e Maria Ciavatta, Teoria e Educação no Labirinto do Capital. Editora Vozes, Petrópolis, Rio de Janeiro, Brasil.188 páginasPreço do livro: R$ 19,00 ISBN: 85.326.2524-X Dalila Andrade Oliveira, Universidade Federal de Minas Gerais7 Abril 2002Resumo da Resenha. Teoria e Educação no Labirinto do Capital , trata-se de uma coletânea que foi organizada pelos professores Gaudêncio Frigotto e Maria Ciavatta, fruto de discussões ocorridas nos seminários de pesquisa realizados no Programa de Pós Graduação em Educação da UFF. Compõe-se de um conjunto de textos que têm "por objetivo estabelecer um inventário de questões no campo da construção teórica das ciências sociais e humanas em sua relação orgânica com o campo educativo". Trata-se de uma coletânea que se propõe a refletir um esforço de construção de um pensamento social, econômico, político e educacional autônomo, na década de 90, onde essa perspectiva se viu profundamente ameaçada. Compõe-se de um conjunto de textos que têm “por objetivo estabelecer um inventário de questões no campo da construção teórica das ciências sociais e humanas em sua relação orgânica com o campo educativo”. Sendo assim, o livro é resultado de debates que ocorreram no âmbito do Programa de Pós-Graduação em Educação da Universidade Federal Fluminense, denominados seminários avançados. O evento foi organizado a partir das problemáticas dos objetos de tese dos doutorandos do Programa, buscando compreender a crise teórica das ciências sociais e humanas e seus desdobramentos no campo da educação, tendo sido seus principais eixos: “a crise econômica que se .expressa na crise do capital e na globalização excludente; a crise ético-política que se manifesta na ambigüidade do conceito de democracia e na naturalização da exclusão; a crise da razão que apreendemos no debate da modernidade e da pós-modernidade, da cultura, da história e da ideologia.”. Foram também estes os eixos da coletânea que aqui apresento, já que esta se traduz na exposição dos textos apresentados pelos autores nos referidos seminários. Sendo assim traz um grupo de autores renomados, alguns com vasta experiência acadêmica e grande produção teórica nas áreas de ciências humanas e sociais no Brasil. O livro é aberto com um belo prefácio, escrito por um grande pensador latino-americano da atualidade, Professor Hugo Zemelman, do Colégio do México que apresenta um convite muito sedutor ao leitor de que ele busque o conhecimento com o sentido de libertar-se. Nas suas palavras, Zemelman nos remete ao Mito de Sísifo: “ Somos desafiados assumir que o destino é simplesmente humano e que, por isso, nunca está esgotado, que sempre se pode recomeçar na medida em que, como salientava Camus no Mito de Sísifo, ‘as verdades esmagadoras desaparecem ao ser reconhecidas’ ou, em outras palavras, quando o saber nos liberta do que nos determina.”. O prefácio é sucedido de uma apresentação da Coletânea, escrita pelos organizadores, Gaudêncio Frigotto e Maria Ciavatta, ambos professores do referido Programa de Pós Graduação. Dispõem, os organizadores, sobre as intenções dos seminários, a atualidade temática tratada e sobre a composição posterior do livro. A Coletânea está dividida em duas partes, a primeira intitula-se A crise do capital e a crise ético-política – globalização e exclusão social. A segunda parte traz o título de A crise da razão e a pós-modernidade – cultura, história e ideologia. A primeira parte do livro, traz como primeiro capítulo: A nova e a velha faces da crise do capital e o labirinto dos referenciais teóricos, escrito por Gaudêncio Frigotto. O autor procura argumentar acerca de uma efetiva crise dos referenciais teóricos, compreendendo-a como derivada das mudanças profundas vividas pelo sistema capital e seu metabolismo social. O grande esforço do autor parece residir na tentativa de demonstrar que, a despeito da crise do trabalho assalariado, é necessário “trabalhar numa dimensão de totalidade concreta e não abandonar as categorias trabalho, modo de produção social e classe social.”. O segundo capítulo: “A nova hegemonia da burguesia no Brasil dos anos 90 e os desafios de uma alternativa democrática”, de Francisco de Oliveira, se por um lado enriquece em muito o leitor com as contribuições maduras do autor - cientista social de grande renome no Brasil, sobretudo por seu compromisso político com as idéias e seu tempo - , por outro, deixa a desejar pela forma pouco sistemática com que as idéias são dispostas e discutidas. Trata-se de uma transcrição da sua exposição realizada durante o seminário, seguida de debate. O texto traz uma rememoração do autor sobre os últimos cinqüenta anos de política no Brasil, onde os fatos são retratados à luz de suas análises (de forte teor gramsciano), em tom coloquial. A segunda parte do livro é aberta com o capítulo terceiro intitulado “Epistemologia pós-moderna: a visão do historiador”, escrito por Ciro Camilo Flamarion Cardoso, professor titular de história da UFF. Neste capítulo o historiador nos presenteia com um texto denso, profundo e ao mesmo tempo rápido, onde aborda a crítica à epistemologia da pós-modernidade. O texto apresenta referências históricas consistentes e uma revisão bibliográfica que traduz a maturidade intelectual do autor e sua densidade teórica. O capítulo seguinte, de autoria do filósofo e historiador, Leandro Konder, apresenta o mesmo tom coloquial, observado no segundo capítulo. Seu objetivo é discutir a revisão metodológica e conceitual na esfera das ciências sociais no que se refere ao legado deixado por Marx. Para tanto, o autor propõe abordar dez temas relacionados aquilo que considera que precisa ser mudado com relação ao pensamento de Marx, tanto no que se considera haver envelhecido, tanto quanto nas idéias que podem ter sido “distorcidas”. Os dez pontos que abordou poderiam ser assim resumidos: o legado do iluminismo no pensamento de Marx; a racionalidade da história; o conceito de ideologia; as ambigüidades da utopia; a análise que Marx faz da política, tendo como referência “O dezoito brumário”; a centralidade dos conflitos no pensamento de Marx; a luta política na construção do conceito de cidadania; uma revisão do conceito de Estado; a questão da estrutura social atrelada ao conceito de ideologia e, por fim, a dialética. O capítulo cinco traz o tema da História e Verdade no atual contexto de “um relativismo cultural difuso”. A autora Virgínia Fontes aborda a questão a partir de uma matriz filosófica, separando em dois níveis suas análises, entre o universal e o absoluto. Considerando que as Ciências Sociais , incluindo a História e a Filosofia são atravessadas pela ordem e poder, a autora vai afirmar que “as idéias e noções sobre a verdade ligam-se às práticas sociais que elas fundamentam”. As conclusões da autora são de que é necessário considerar a verdade como processo, o que significa admitir que tendemos a ela, mas que ela jamais será terminada. O capítulo seis, O conhecimento histórico e o problema teórico-metodológico das mediações, de autoria de Maria Ciavatta, uma das organizadoras da Coletânea, traz como questão fundamental, a compreensão da relação trabalho e educação como um espaço complexo de múltiplas relações sociais. Trata-se, sobretudo, de uma preocupação teórico-metodológica de definir a relação trabalho e educação como objeto e campo de conhecimento. Para tanto, a autora se propõe a discutir os conceitos de mediação e particularidade e seu uso na pesquisa social. O capítulo sete: Identidade, cultura e globalização, escrito por Muniz Sodré, apresentando o mesmo tom coloquial já observado em outros capítulos, por tratar de transcrição de exposição proferida no seminário de pesquisa, discute uma questão central para as ciências sociais hoje: a identidade. O autor procura analisar “a questão da identidade e da produção da subjetividade no contexto dos processos de globalização capitalista e das novas tecnologias de comunicação, chamando a atenção para a questão dos valores e da diferenciação”. Sonia Kramer, escreve o capítulo oito, intitulado Linguagem e história: o papel da narrativa e da escrita na construção de sujeitos sociais. A autora se propõe a analisar o papel da linguagem, narrativa e escrita, na constituição da natureza social e histórica dos sujeitos, tendo como referência os desafios encontrados na educação e formação. O pressuposto básico da autora é “a idéia de que para tornar os alunos e alunas pessoas que tenham uma atuação crítica na vida cotidiana, no plano social, no plano da cultura e da história, os próprios professores precisam estabelecer relações estreitas e críticas com a cultura,com a história e a sociedade”. O capítulo final, de número nove, traz, em linguagem poética, uma breve reflexão de Luiz Antonio Baptista, sobre “as contradições que cercam os diversos lugares sociais ocupados pelos sujeitos e sua relação com a cidade e a política”. Com o título Cidades, lugares, sujeitos: contribuições da literatura e da política, o autor se reporta a cenas freqüentes na realidade atual, como a manifestação das mulheres argentinas na Praça de Maio exigindo seus cadáveres, ao mesmo tempo que busca na Tragédia Grega similitudes que possam explicar o sujeito tecido na transgressão. Passeando pela literatura, da mitologia grega aos escritos de Franz Kafka, o autor vai retratar, através de uma visita de pessoas sem teto a um Shopping Center da Zona Sul do Rio de Janeiro, “o fracasso das promessas de felicidade asséptica”, construídas sob o capitalismo. Enfim, o livro, como caracterizado pelos próprios organizadores, revela uma pluralidade que pretende instigar a reflexão crítica sobre os tempos atuais. Além da relevância e atualidade temática, o livro traz um debate oportuno e necessário à área de estudos sobre Trabalho e Educação, bem como as Ciências Sociais em geral. Sobre os autores do livroGaudêncio Frigotto eMaria Ciavatta, são professores do Programa de Pós Graduação em Educação da Universidade Federal Fluminense. Sobre a autora da resenha do livroDalila Andrade Oliveira, socióloga, doutora em Educação (USP), professora da Faculdade de Educação da Universidade Federal de Minas Gerais. Sub Coordenadora do NETE - Núcleo de Estudos Sobre Trabalho e Educação da mesma Universidade. Autora do livro: Educação básica: gestão do trabalho e da pobreza, Vozes, 2000. Organizadora dos livros: Gestão democrática da educação desafios contemporâneos, Vozes, 1997 (4ª edição) e Trabalho e política na escola: administraçãod os sistemas públicos de educação básica, Autêntica, 1999 (3ª edição). Autora de capítulos de livros e artigos publicados em peíódicos nacionais da área de educação. Reseñas Educativas/ Resenhas Educativas publica reseñas de libros sobre educación, cubriendo tanto trabajos académicos como practicas educativas. Todas las informaciones son evaluadas por los editores: Editor para Español y Portugués Gustavo E. Fischman Arizona State University Editor General (inglés) Gene V Glass Arizona State University Reseñas Educativas es firmante de la Budapest Open Access Initiative. |
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