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Rosetti–Ferreira, Maria Clotilde, Amorim, Kátia S., Selva, Ana Paula S. E Carvalho, Ana Maria A. (Orgs). (2004). Rede de Significações e o estudo do desenvolvimento humano. Porto Alegre/RS: ArtmedPps. 232 Resenhado por Eloiza da Silva Gomes de OliveiraNovembro 13, 2004Começo dizendo que foi com prazer que enveredei por esta rede de significações, cujo objetivo final é desenvolver um conceito bastante complexo e exaustivamente discutido: o de desenvolvimento humano. Jean Valsiner, no Prefácio, fala de uma “Ciência do desenvolvimento”, mais do que apenas contribuições à literatura de uma área de “entremeio” ou de interseção entre a Psicologia e a Pedagogia. Voltando à rede de significações (RedSig), ela foi tecida pelos componentes do CINDEDI (Centro de Investigações sobe Desenvolvimento Humano e Educação Infantil) da Faculdade de Filosofia, Ciência e Letras de Ribeirão Preto, da Universidade de São Paulo. Segundo uma das organizadoras, a tessitura se deu à moda do poeta João Cabral e Melo Neto: Um galo sozinho não tece uma manhã: ele precisará sempre de outros galos. É um trabalho conjunto, de vários anos, de pesquisadores que buscam integrar as suas investigações com o envolvimento intenso com a Educação Infantil. O referencial teórico que fundamenta os textos é a visão sócio – histórica do desenvolvimento humano e a metáfora da rede foi buscada para integrar a visão dialética e discursiva, apropriada do naipe de autores estudados - Vygotsky, Wallon, Bronfenbrenner, Bruner, Valsener -, às investigações realizadas pelo grupo. A perspectiva da RedSig, e as significações que ela pode assumir, vai auxiliar a superação de antigas dicotomias, como a que existe entre o biológico e o social, o corpo e a mente, a permanência e a ruptura, entre outras. A obra está dividida em três partes, todas compostas por um bloco de textos e por comentários, o que enriquece a obra e estimula a reflexão e o debate. Os comentadores agregam sentidos e significados a pontos importantes, colocados pelos autores dos textos e levantando importantes questões para a reflexão e o debate. A parte 1 esclarece os conceitos estruturantes da obra: rede de significações (RedSig), que concebe o desenvolvimento humano imerso em um rede de elementos complexos (uma matriz sócio-histórica), de natureza semiótica, que interagem dialógica e dialeticamente. São os significados que emergem desta interação que vão determinar as nuances do desenvolvimento. Ora, isto coloca o desenvolvimento humano em uma perspectiva bastante diferente daquelas que são oferecidas pelos paradigmas vigentes no nosso universo cotidiano de estudo - objetivista, subjetivista e histórico-social. Muda também a noção de contexto - não mais visto como “pano de fundo” do desenvolvimento humano, mais à feição do conceito de meio para Henri Wallon (com as funções de milieu e moyen). Esta rede de significações disponibiliza e configura possibilidades e limites que circunscrevem os processos de desenvolvimento do homem. As redes se interligam, se superpõem, abrindo um universo de possibilidades de interação entre os homens. A RedSig não configura uma metodologia de investigação, mas requer perspectivas teórico-metodológicas que revêem criticamente as já existentes. Alguns conceitos periféricos, porém não menos significativos são também abordados - sentido e significação, entre outros. Vygotsky (1995) atribui especial valor, nos seus escritos e investigações, ao processo de significação. Segundo ele,
A parte 2, de acordo com o projeto geral, orientador da obra, faz uma intermediação entre a primeira, conceitualmente mais ampla, e a terceira, mais especificamente voltada para as experiências praticas. Ela vai especificando a configuração básica da RedSig, através de alguns “temas” específicos:
A terceira parte do livro, como já dissemos, é a que mais está voltada para a prática, descrevendo situações de pesquisa na creche, a partir da perspectiva teórico-metodológica de Rede de Significações. Desta forma, são examinados os processos de adaptação dos bebês, a organização dos ambientes infantis coletivos e as situações de compartilhamento, na brincadeira das crianças. O último capítulo desta parte focaliza uma questão de enorme significância: a inclusão de crianças portadoras de necessidades especiais, (no caso, paralisia cerebral) em pré-escolas. Seguem-se dois comentário sobre os capítulos da parte 3, explicitando a relação entre a fundamentação teórica da RedSig e as experiências práticas relatadas, discutindo a existência - ou não - de uma metodologia específica para a mesma. O primeiro - “Utilizando a Rede no estudo de contextos de desenvolvimento” - destaca que a proposta de RedSig pontua o princípio sócio-genético como fundamental no estudo do desenvolvimento humano. Isto implica análises que se estendem das pessoas (e suas interações imediatas) à matriz sócio-histórica propriamente dita. Isto permite o aporte de conceitos ainda pouco explorados, como os de “interação como potencial de regulação”, “persistência de significado” e “compartilhamento”. O segundo - “Rede de Significações: um debate conceitual e empírico” - aborda, com destaque, os processos discursivos, semióticos, de significação e representação e de relação interpessoal, no diálogo com diversas perspectivas teóricas e metodológicas. O capítulo 11, apresentado “À guisa de encerramento” traz o texto intitulado “Tecendo a rede de significações: fios e alinhavos”. Ele destaca que a obra transcende mera aglutinação de “vozes”, no cenário da produção de conhecimento sobre o tema no nosso país, chegando a provocar interlocuções que apontam para a elaboração de uma concepção de ciência “... em que a contradição, mais do que problema, é parte integrante de qualquer processo de construção do conhecimento.” (p. 127). Este “diálogo” de variados autores, de diferentes orientações teóricas, gera a abordagem de uma multiplicidade de conceitos, vinculados a uma matriz explicativo – compreensiva sócio – histórica. Concluindo, a utilização da metáfora da rede de significados torna a abordagem mais rica, interessante e abrangente, atribuindo novos contornos ao estudo do desenvolvimento humano e estimulando a realização de estudos sobre o tema. A relação intrínseca desta abordagem com a Educação é claramente explicitada por Vygotsky (2003):
RefêrenciasVygotsky, Lev S. (1995). Obras Escogidas. Madrid: Visor. Vygotsky, Lev S. (2003). Psicologia Pedagógica. Edição Comentada. Porto Alegre: ARTMED. Acerca dos autores do livro As organizadoras são professoras doutoras do programa de Pós - Graduação do Departamento de Psicologia e Educação da Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras de Ribeirão Preto (FFCLRP / USP). Todas possuem ligação com o Centro de Investigação sobre Desenvolvimento Humano e Educação Infantil, desta Universidade. Entre os autores e comentaristas dos textos estão docentes e doutorandos de Universidades de diversos estados brasileiros, todos vinculados ao estudo da Psicologia do Desenvolvimento Humano. Acerca da resenhadora do livro Eloiza da Silva Gomes de Oliveira. Doutora em Educação Brasileira; Mestra em Psicologia Escolar; Diretora da Faculdade de Educação da UERJ; Coordenadora do Curso de Pedagogia do Consórcio UERJ/CEDERJ; Psicoterapeuta de crianças e adolescentes Reseñas Educativas/ Resenhas Educativas publica reseñas de libros sobre educación, cubriendo tanto trabajos académicos como practicas educativas. Todas las informaciones son evaluadas por los editores: Editor para Español y Portugués Gustavo E. Fischman Arizona State University Editor General (inglés) Gene V Glass Arizona State University Reseñas Educativas es firmante de la Budapest Open Access Initiative. |
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