jueves, 1 de mayo de 2025

Oliveira, Inês Barbosa de; Paiva, Jane (orgs.). (2004). Educação de jovens e adultos. Resenha por Andrea da Paixão Fernandes

Oliveira, Inês Barbosa de; Paiva, Jane (orgs.). (2004). Educação de jovens e adultos. Rio de Janeiro: DP&A.

158 pp.
  ISBN: 85-7490-274-8

Resenha por Andrea da Paixão Fernandes

Fevereiro 23, 2005

Educação de jovens e adultos apresenta, em dez textos que se complementam, os cenários da educação de jovens e adultos no Brasil. No primeiro capítulo – “ Cenários da educação de jovens e adultos: desafios teóricos, indicativos políticos” – que consiste na apresentação do livro, as autoras-organizadoras fazem referência às transformações ocorridas na educação de jovens e adultos (EJA), ressaltam a perspectiva de educação continuada e apresentam os demais textos que compõem esta coletânea.

Em “Lições da história: os avanços de sessenta anos e a relação com as políticas de negação de direitos que alimentam as condições do analfabetismo no Brasil”, Osmar Fávero revisita as campanhas e movimentos de educação de adultos no período compreendido pelas décadas 40 a 60 do século passado e elabora uma reflexão atualizada sobre os efeitos dessas campanhas e o “voluntarismo”, apontando para a discussão da universalização do ensino versus o fenômeno da qualidade. Deixa, ainda, para o leitor, uma reflexão: “Falta-nos ainda um novo projeto histórico – que acreditamos possa vir a ser construído nos próximos anos”, diz Fávero.

No terceiro capítulo, Jane Paiva em “Educação de jovens e adultos: questões atuais em cenário de mudanças” apresenta uma grande contribuição para os profissionais e pesquisadores da área ao propor reflexões sobre os significados da EJA na atualidade, passando pelos principais documentos legais, estratégias apresentadas na última década e as experiências dos fóruns de EJA, das ONG’s e dos movimentos sociais até o período atual.

Eliane Ribeiro de Andrade, em “Os jovens da EJA e a EJA dos jovens”, parte de situações-problemas ainda vivenciadas na educação de jovens e adultos para discutir os direitos que esses jovens, profundamente marcados pelas desigualdades sociais, têm à educação. A autora apresenta, também, dados bastante relevantes sobre a distorção série-idade na última década e as contradições que se apresentam para a EJA, embora as estatísticas revelem dados favoráveis em relação ao atendimento educacional para o ensino fundamental na década de 1990. Dessa forma, leva o leitor a perceber que ser jovem na EJA significa encarar os desafios a fim de superar as barreiras construídas por um sistema educacional que, historicamente, não vem reconhecendo, na prática, o direito desses sujeitos existirem socialmente.

No quinto capítulo – “Escolarização de trabalhadores: apreendendo as ferramentas básicas para a luta cotidiana” – Timothy Ireland apresenta como os projetos de escolarização de trabalhadores no Brasil vêm se apresentando nas décadas recentes a partir de uma análise do novo modelo do sindicalismo democrático no Brasil. Para isso, considera um projeto pensado pelos trabalhadores da construção civil, por meio de seu sindicato, no estado da Paraíba. O autor leva o leitor a perceber que essa recente configuração da educação de jovens e adultos no Brasil se constitui como alternativa para a classe trabalhadora, tendo em vista a ausência de políticas públicas para a área, ainda que haja, “o predomínio, em certos momentos, de fatores políticos e/ou econômicos como propulsores do processo educativo” (p. 69).

Em “O acesso à cultura escrita: a participação social e a apropriação de conhecimentos em eventos cotidianos de leitura e escrita”, Judith Kalman possibilita ao leitor a reflexão acerca dos sentidos da leitura, considerando-se os “conceitos de apropriação, participação e acesso”. Analisa, também, o acesso à leitura e à escrita numa perspectiva sociocultural e, portanto, plural, na qual, por sua vez, a escola é o local privilegiado para esse acesso, mas não o único.

O capítulo sete, “Pensando o currículo na educação de jovens e adultos” de autoria de Inês Barbosa de Oliveira, apresenta uma importante análise acerca do currículo, ressaltando que as práticas curriculares precisam ser adequadas aos perfis e necessidades dos educandos. A autora apresenta, também, o conceito de tessitura do conhecimento em redes, ressaltando que o currículo será mais adequado à clientela se aspectos referentes à realidade estiverem contemplados. Tece, ainda, uma reflexão sobre a infantilização dos currículos e planejamentos para jovens e adultos, além de criticar a fragmentação na forma de organizar esses currículos.

No oitavo capítulo, “O fazer pedagógico no centro do processo de formação continuada de professoras: autonomia e emancipação”, de autoria coletiva, são ressaltadas as incertezas que acompanham a trajetória da EJA, tendo em vista a ausência de políticas públicas com vistas a garantir o direito à educação a essa parcela da sociedade. As autoras enfatizam a importância dos fóruns de EJA e das ações voltadas para a formação continuada de professores que atuam na educação de jovens e adultos desenvolvidas por um coletivo interinstitucional para diversas Secretarias de Educação, buscando romper com a idéia de que o saber é privilégio de uns, ou seja, “a proposta de formação baseia-se na idéia de que os sujeitos são envolvidos em processos dinâmicos de co-construção coletiva de conhecimentos” (p. 115). As autoras destacam que os encontros com os professores da EJA se constituem como um verdadeiro processo de aprendizagem para todos os sujeitos envolvidos, buscando desmistificar a idéia de que “receitas” prontas são significativas na relação de ensino-aprendizagem. O leitor poderá perceber que essa argumentação é fortalecida por meio da valorização dos saberes e das histórias de vida dos próprios professores cursistas.

Formação continuada como educação de jovens e adultos: experiências junto aos educadores do MST”, também de autoria coletiva, apresenta os processos de formação de formadores a partir das experiências do Núcleo de Educação de Jovens e Adultos da Universidade Federal do Espírito Santo, considerando a descontinuidade das ações do Pronera/EJA e uma análise crítica dessa política, além da problematização dos sentidos da formação de educadores do campo. Os autores levam o leitor a refletir acerca das possíveis trocas a serem estabelecidas a partir da relação dicotômica entre rural e urbano e a perceberem a complexidade da educação e da escola do campo.

Cleide Leitão, no décimo capítulo intitulado “Itinerários e processos de autoformação” apresenta, como propõe o título do artigo, algumas reflexões acerca da necessidade de haver políticas de formação de professores para a EJA de forma a garantir mais qualidade ao desafiador trabalho com a área. A autora relata a experiência de formação realizada pela ONG Sapé, sediada no Rio de Janeiro, e que sentimentos a ausência da formação para atuar na EJA podem acarretar, ressaltando, ainda, a complexidade que subjaz esses processos de formação e de autoformação.

Os autores de Educação de jovens e adultos apresentam para os leitores e estudiosos da área uma relevante contribuição sobre os espaços-tempos da EJA no Brasil, suas ações, contradições e desafios a serem enfrentados nesse ainda início de século.

Acerca das organizadoras do livro
Inês Barbosa de Oliveira e Jane Paiva

Professoras da Faculdade de Educação da Universidade do Estado do Rio de Janeiro – UERJ.

Acerca da autora de resenha
Andrea da Paixão Fernandes

Mestra em Educação pela UFF, Professora Assistente do Instituto de Aplicação Fernando Rodrigues da Silveira – CAp/UERJ, Professora da Rede Municipal de Educação do Rio de Janeiro, docente associada a cursos de extensão de EJA coordenados pelo LPP/UERJ, em municípios do Rio de Janeiro. (andreaf@uerj.br).

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