Oliveira, Inês Barbosa de; Paiva, Jane (orgs.). (2004).
Educação de jovens e adultos. Rio de Janeiro:
DP&A.
158 pp.
ISBN: 85-7490-274-8
Resenha por
Andrea da Paixão Fernandes
Fevereiro 23, 2005
Educação de jovens e adultos apresenta, em
dez textos que se complementam, os cenários da
educação de jovens e adultos no Brasil. No primeiro
capítulo – “ Cenários da educação
de jovens e adultos: desafios teóricos, indicativos
políticos” – que consiste na
apresentação do livro, as autoras-organizadoras fazem
referência às transformações ocorridas na
educação de jovens e adultos (EJA), ressaltam a
perspectiva de educação continuada e apresentam os
demais textos que compõem esta coletânea.
Em “Lições da história: os
avanços de sessenta anos e a relação com as
políticas de negação de direitos que alimentam as
condições do analfabetismo no Brasil”, Osmar
Fávero revisita as campanhas e movimentos de
educação de adultos no período compreendido pelas
décadas 40 a 60 do século passado e elabora uma
reflexão atualizada sobre os efeitos dessas campanhas e o
“voluntarismo”, apontando para a discussão da
universalização do ensino versus o fenômeno
da qualidade. Deixa, ainda, para o leitor, uma reflexão:
“Falta-nos ainda um novo projeto histórico – que
acreditamos possa vir a ser construído nos próximos
anos”, diz Fávero.
No terceiro capítulo, Jane Paiva em
“Educação de jovens e adultos: questões
atuais em cenário de mudanças” apresenta uma
grande contribuição para os profissionais e
pesquisadores da área ao propor reflexões sobre os
significados da EJA na atualidade, passando pelos principais
documentos legais, estratégias apresentadas na última
década e as experiências dos fóruns de EJA, das
ONG’s e dos movimentos sociais até o período
atual.
Eliane Ribeiro de Andrade, em “Os jovens da EJA e a
EJA dos jovens”, parte de situações-problemas
ainda vivenciadas na educação de jovens e adultos para
discutir os direitos que esses jovens, profundamente marcados
pelas desigualdades sociais, têm à educação.
A autora apresenta, também, dados bastante relevantes sobre
a distorção série-idade na última década
e as contradições que se apresentam para a EJA, embora
as estatísticas revelem dados favoráveis em
relação ao atendimento educacional para o ensino
fundamental na década de 1990. Dessa forma, leva o leitor a
perceber que ser jovem na EJA significa encarar os desafios a fim
de superar as barreiras construídas por um sistema
educacional que, historicamente, não vem reconhecendo, na
prática, o direito desses sujeitos existirem
socialmente.
No quinto capítulo –
“Escolarização de trabalhadores: apreendendo
as ferramentas básicas para a luta cotidiana”
– Timothy Ireland apresenta como os projetos de
escolarização de trabalhadores no Brasil vêm se
apresentando nas décadas recentes a partir de uma
análise do novo modelo do sindicalismo democrático no
Brasil. Para isso, considera um projeto pensado pelos
trabalhadores da construção civil, por meio de seu
sindicato, no estado da Paraíba. O autor leva o leitor a
perceber que essa recente configuração da
educação de jovens e adultos no Brasil se constitui
como alternativa para a classe trabalhadora, tendo em vista a
ausência de políticas públicas para a área,
ainda que haja, “o predomínio, em certos momentos, de
fatores políticos e/ou econômicos como propulsores do
processo educativo” (p. 69).
Em “O acesso à cultura escrita: a
participação social e a apropriação de
conhecimentos em eventos cotidianos de leitura e
escrita”, Judith Kalman possibilita ao leitor a
reflexão acerca dos sentidos da leitura, considerando-se os
“conceitos de apropriação, participação
e acesso”. Analisa, também, o acesso à leitura e
à escrita numa perspectiva sociocultural e, portanto,
plural, na qual, por sua vez, a escola é o local
privilegiado para esse acesso, mas não o único.
O capítulo sete, “Pensando o currículo na
educação de jovens e adultos” de autoria de
Inês Barbosa de Oliveira, apresenta uma importante
análise acerca do currículo, ressaltando que as
práticas curriculares precisam ser adequadas aos perfis e
necessidades dos educandos. A autora apresenta, também, o
conceito de tessitura do conhecimento em redes, ressaltando que o
currículo será mais adequado à clientela se
aspectos referentes à realidade estiverem contemplados.
Tece, ainda, uma reflexão sobre a infantilização
dos currículos e planejamentos para jovens e adultos,
além de criticar a fragmentação na forma de
organizar esses currículos.
No oitavo capítulo, “O fazer pedagógico no
centro do processo de formação continuada de
professoras: autonomia e emancipação”, de
autoria coletiva, são ressaltadas as incertezas que
acompanham a trajetória da EJA, tendo em vista a
ausência de políticas públicas com vistas a
garantir o direito à educação a essa parcela da
sociedade. As autoras enfatizam a importância dos
fóruns de EJA e das ações voltadas para a
formação continuada de professores que atuam na
educação de jovens e adultos desenvolvidas por um
coletivo interinstitucional para diversas Secretarias de
Educação, buscando romper com a idéia de que o
saber é privilégio de uns, ou seja, “a proposta
de formação baseia-se na idéia de que os sujeitos
são envolvidos em processos dinâmicos de
co-construção coletiva de conhecimentos” (p.
115). As autoras destacam que os encontros com os professores da
EJA se constituem como um verdadeiro processo de aprendizagem
para todos os sujeitos envolvidos, buscando desmistificar a
idéia de que “receitas” prontas são
significativas na relação de ensino-aprendizagem. O
leitor poderá perceber que essa argumentação
é fortalecida por meio da valorização dos saberes
e das histórias de vida dos próprios professores
cursistas.
“Formação continuada como
educação de jovens e adultos: experiências junto
aos educadores do MST”, também de autoria
coletiva, apresenta os processos de formação de
formadores a partir das experiências do Núcleo de
Educação de Jovens e Adultos da Universidade Federal do
Espírito Santo, considerando a descontinuidade das
ações do Pronera/EJA e uma análise crítica
dessa política, além da problematização dos
sentidos da formação de educadores do campo. Os autores
levam o leitor a refletir acerca das possíveis trocas a
serem estabelecidas a partir da relação dicotômica
entre rural e urbano e a perceberem a complexidade da
educação e da escola do campo.
Cleide Leitão, no décimo capítulo intitulado
“Itinerários e processos de
autoformação” apresenta, como propõe o
título do artigo, algumas reflexões acerca da
necessidade de haver políticas de formação de
professores para a EJA de forma a garantir mais qualidade ao
desafiador trabalho com a área. A autora relata a
experiência de formação realizada pela ONG
Sapé, sediada no Rio de Janeiro, e que sentimentos a
ausência da formação para atuar na EJA podem
acarretar, ressaltando, ainda, a complexidade que subjaz esses
processos de formação e de autoformação.
Os autores de Educação de jovens e adultos
apresentam para os leitores e estudiosos da área uma
relevante contribuição sobre os espaços-tempos da
EJA no Brasil, suas ações, contradições e
desafios a serem enfrentados nesse ainda início de
século.
Acerca das organizadoras do livro
Inês
Barbosa de Oliveira e Jane Paiva
Professoras da Faculdade de Educação da Universidade
do Estado do Rio de Janeiro – UERJ.
Acerca da autora de resenha
Andrea da Paixão
Fernandes
Mestra em Educação pela UFF, Professora Assistente
do Instituto de Aplicação Fernando Rodrigues da
Silveira – CAp/UERJ, Professora da Rede Municipal de
Educação do Rio de Janeiro, docente associada a cursos
de extensão de EJA coordenados pelo LPP/UERJ, em
municípios do Rio de Janeiro. (andreaf@uerj.br).
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