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Poveda, David (coord.). (2003). Entre la diferencia y el conflicto: Miradas etnográficas a la diversidad cultural en la educación. Cuenca: Ediciones de la Universidad de Castilla La Mancha. 240 págs. Reseñado por la Dra. Veronica Pacini-Ketchabaw
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Poveda, David (coord.). (2003). Entre la diferencia y el conflicto: Miradas etnográficas a la diversidad cultural en la educación. Cuenca: Ediciones de la Universidad de Castilla La Mancha. 240 págs. Reseñado por la Dra. Veronica Pacini-Ketchabaw
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Nunes Sobrinho, Francisco de Paula e Nassaralla, Iara. (Orgs.) (2004) Pedagogia Instituci onal: Fatores Human os nas Organizações. Rio de Janeiro: Brasil: ZIT.267 pp. ISBN 85-89907-56-2
Cristina Borges de Oliveira Maio 2, 2006 Baseada na relevância da obra este texto objetiva resenhar o livro organizado por NUNES Sobrinho, F. de P. e Nassaralla, I. (2004) Pedagogia Institucional: Fatores Humanos nas Organizações, iniciativa do Núcleo de Pedagogia Institucional (NUPI) da Faculdade de Educação da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (UERJ). A obra possui doze textos que apresentam uma visão multifacetada do denominado chão de fábrica, bastante interessante para professores educação física, pedagogos entre outros que atuam em empresas e organizações. Pesquisas atuais sobre o tema fatores humanos nas organizações apontam a crescente insatisfação de homens e mulheres no mundo do trabalho. A explicação para essa contrariedade ocupacional se sustenta em inúmeros e complexos fatores contributivos; a guisa de ilustração citamos a precarização do trabalho e a expropriação do trabalhador/a, a política de baixos salários, o assédio moral, o clima organizacional e o não atendimento aos direitos básicos dos trabalhadores, quais sejam, à saúde, à educação, à segurança nos postos de trabalho e o lazer, tema recorrente nas pesquisas da área acadêmica Educação Física. No contexto geral contribuinte para as insatisfações nos postos de trabalho, alguns estudos observam, registram e definem conceitualmente os eventos associados às relações sócio-profissionais, aos componentes físicos do ambiente e à incidência de doenças ocupacionais, especialmente os distúrbios psíquicos e neurológicos, além de fornecerem subsídios para o processo diagnóstico e para a intervenção ergonômica. Os elementos gerados por essas pesquisas contribuem, significativamente, para que os gestores e analistas de políticas tomem decisões efetivas na formulação de propostas que humanizem o ambiente de trabalho. Tal livro discute aspectos da contemporânea gestão do capital humano nas organizações e instituições em um contexto dinâmico de mercados complexos que exigem, cada vez mais dos trabalhadores capacidades diversas. Essa obra é resultado de uma empreitada coletiva, surge como resposta aos apelos por indicações de caminhos sobre a gestão do conhecimento e do comportamento de indivíduos e grupos sociais no contexto do trabalho. A obra traz a tona questões que possuem relações específicas sobre o ambiente laboral e a humanização de suas estações e/ou postos, sendo, uma compilação de alguns importantes aspectos que caracterizam as atividades da Pedagogia Institucional. Neste sentido, tem por objetivo diagnosticar os fatores que podem influir direta ou indiretamente no desempenho individual ou do grupo organizacional, interferindo nas expectativas e no resultado final. O livro possui doze capítulos em forma de textos independentes que se interrelacionam para dar conta da temática proposta destacando questões polêmicas e pouco debatidas tanto no âmbito acadêmico, quanto no das organizações. O livro apresenta uma grande diversidade de profissionais enquanto autores, o que enriquece as reflexões propostas, apresentando as possíveis interfaces do tema Pedagogia Institucional: Fatores Humanos nas Organizações. A partir de uma abordagem multifacetada da pedagogia institucional, em uma compreensão ampliada da vida das organizações, a obra levanta a importância do redimensionamento do papel profissional de pedagogos, professores de Educação Física, psicólogos, entre outros, em um contexto de competição exacerbada e enormemente tecnologizado, a luz de três olhares que se complementam: O das instituições de educação superior responsáveis pela formação desses profissionais, o das empresas que necessitam se adaptar à nova realidade, proporcionando-lhes condições efetivas de trabalho, e por último, e não menos importante, a perspectiva dos próprios sujeitos profissionais que são desafiados a atuarem no mundo extra-escolar. Considerando-se a escassez de dados produzidos até o momento, pode-se afirmar que os profissionais da educação pouco conhecem e, conseqüentemente, poucos pesquisam sobre o universo organizacional e o chão-de-fábrica. Até porque, a temática pedagogia institucional e seu campo de atuação são incipientes para os cursos de formação profissional. Assim, a obra, em seu conjunto, é interessante, pela atualidade dos temas e também pela relevância social e científica dos mesmos. Enfatizamos que a mesma pode contribuir para aqueles que desejam se aproximar dessa área em ascensão. Com intuito de indicar os assuntos tratados ao longo do livro, destacamos brevemente o que se pode encontrar. O texto introdutório trata da pedagogia institucional sob a perspectiva dos que exercem esta função objetivando definir o perfil ocupacional do pedagogo que atua em instituições diversas a partir da análise de relatos verbais. Tal texto destaca as necessidades urgentes da formação profissional em um cenário econômico e culturalmente globalizado, onde a complexidade das relações entre os projetos educacionais e o mundo laboral se ampliam em função dos impactos produzidos pelas inovações tecnológicas e as novas formas de comunicação e produção do conhecimento. O segundo e o terceiro capítulo apresentam o tema educação permanente como preocupação central, sendo que o segundo capítulo salienta os procedimento de avaliação em educação corporativa de programas educacionais utilizados em processos de formação continuada dentro das corporações, considerando a existência de diferentes abordagens de avaliação e distintos olhares o que requer, de quem propõe o programa educacional nas organizações, uma postura clara quanto à definição de objetivos mediante a identificação de áreas problemáticas, métodos e técnicas pedagógicas, tempo pedagogicamente necessário para a aprendizagem, delimitação e análise de conteúdos relevantes e avaliação coerente de acordo com os objetivos propostos, pontos que devem estimular competências profissionais nas organizações a partir de intervenção propositiva que venha contribuir para uma práxis crítica e criativa. O terceiro capítulo aborda especificamente o treinamento/qualificação de pessoal, elucidando o conceito de treinamento a viabilidade e eficácia do mesmo dentro da empresa/organização, discutindo a idéia de treinamento enquanto uma parte do processo de mudança de desempenho e uma das soluções, mas não a única, para situações específicas de trabalho. Tais capítulos trazem-nos reflexões sobre quando o treinamento e a qualificação pessoal devem ser utilizados pela empresa, como planejá-los, ou seja, a partir de que prisma. Importante, destacam os autores, que o funcionário dê conta de reconhecer quando o desempenho treinado deve ser utilizado, o que significa criar oportunidades para que o tal desempenho ocorra. Faz-se mister que o funcionário obtenha da empresa um retorno de seu próprio desempenho o que resulta na avaliação formativa enquanto dupla função; a validade individual e o contexto social. Destacamos aqui que a utilização da ergonomia auxilia no desenvolvimento de recursos instrucionais ao considerar as diferenças entre o trabalho prescrito e o trabalho real. Os capítulos que se seguem enfocam as relações interpessoais, elemento fundamental para construção de um sentido de grupo que leve ao objetivo definido. O quarto capítulo trata das relações sociais e habilidades de interação destacando a sua importância para a saúde, qualidade de vida e realização pessoal e profissional. Neste capitulo apresenta-se conceito de habilidades sociais, seus componentes cognitivos de autoconhecimento e conhecimento do outro. Como já enfatizamos anteriormente, o contexto empresarial cada vez mais globalizado exige dos que atuam nele cada vez mais empatia, equilíbrio emocional, curiosidade, atitudes positivas, flexibilidade, ou seja habilidades interpessoais e intrapessoal; o reconhecimento de fatores cognitivos, psicológicos, organizacionais, culturais e ambientais para a obtenção do sucesso almejado. O capitulo quinto aborda um estudo bastante interessante sobre a gestão do clima organizacional enquanto estratégia: seu diagnóstico, mensuração e melhoria do ambiente de trabalho das organizações. Tal estudo apresentado neste capítulo ancora-se no resultado de pesquisas realizadas sobre gestão do clima organizacional de seis empresas, nacionais e multinacionais, instaladas no município do Rio de Janeiro, na análise de modelos de clima organizacional de dezessete empresas, nacionais e multinacionais, instaladas no mesmo município e ainda, em dados de duas empresas de consultoria que tratam do tema. O texto aponta a necessidade de se conhecer, de fato, o que os funcionários pensam sobre a empresa e a atitude deles em relação ao trabalho, possibilitando a melhora do ambiente laboral, a qualidade de vida no trabalho e a qualidade dos serviços prestados pela instituição, pois gerenciar o clima organizacional deve-se constituir em compromisso corporativo que vise não apenas o lucro da empresa, mas fundamentalmente, a melhora da qualidade de vida de seus funcionários. O sexto capítulo aponta para reflexão sobre as formas de otimizar o aprendizado das empresas industriais, intentando potencializar a transposição da idéia de aceleração adotada na realidade escolar, com fins de otimizar o desempenho das organizações. O texto identifica que os avanços nas tecnologias de informação e comunicação possibilitam, sobremaneira, a aproximação e integração de atividades e mercados. Adicionado ao progresso de descobertas científicas, o que não esta descolada do contexto social encontram-se as sofisticações das técnicas de produção o que contribui para uma mudança no perfil dos trabalhadores da industria no tocante ao aumento do grau de escolarização e de responsabilidade decisória. Atualmente os operários são considerados “mão de obra intelectual”. Este capítulo nos faz refletir que quando o conhecimento torna-se o eixo central para o desempenho competitivo, as empresas, indústrias e organizações necessitam urgentemente inovar, portanto, salientamos que o objetivo deste capitulo é propor estruturas que contribuam para aceleração do aprendizado das organizações, com o intuito de estimular a capacidade de inovação e adaptação institucional aos novos modos de produção. O sétimo capítulo estuda a Responsabilidade Social Corporativa enquanto tema atual enfatizando que programas deste tipo estão cada vez mais ganhando papel importante no desenvolvimento dos fatores humanos em empresas. Conceitualmente responsabilidade social significa, neste capítulo, aquela organização que conduz seus negócios de tal forma que venha a transformá-lo em parceiro e responsável em comum pelo desenvolvimento social, ou seja, aquela empresa que tem sensibilidade de entender os interesses das distintas partes envolvidas e incorporar em seu planejamento o atendimento das demandas de todos, e não apenas dos acionistas majoritários, como – acionistas, funcionários, prestadores de serviço, consumidores, fornecedores, comunidade onde se localiza, meio ambiente e também, o Estado. Salientamos que o fato de, cada vez mais, diferentes empresas estarem envolvidas em programas de responsabilidade social é uma realidade crescente não apenas das grandes empresas, o que nos mostra que o engajamento de empresários em compartilhar com o Estado o esforço por melhores condições de vida nas comunidades é uma iniciativa louvável e uma parceria que pode e muito dar certo, sobretudo, em paises subdesenvolvidos. O texto nos chama a atenção para o fato de as práticas de Responsabilidade Social Corporativa serem reputadas, também, enquanto ferramenta de desenvolvimento organizacional, além de causar impressão profunda no desenvolvimento social do país. O capítulo oitavo ressalta o tema fatores humanos nos acidentes de trabalho a partir do paradigma da nova realidade tecnológica. Neste capítulo os autores afirmam que o prejuízo real nos acidentes de trabalho é a perda desses trabalhadores dispostos a entregar a sua alma para se manterem trabalhando, pois, a execução do trabalho em condições perigosas só se efetiva em função desses indivíduos. O autor afirma, com propriedade, que o trabalho não pode abrir mão do comprometimento organizacional, entendendo como inadmissível para a condição humana a noção de acaso enquanto causa dos acidentes no ambiente laboral. Dialeticamente falando, pode-se admitir o acaso para os fenômenos relativos a natureza, mas, dificilmente para o resultado da ação humana. Assim, existem fatores ainda desconhecidos, presentes nos acidentes, em cuja, a ausência ou presença, explicam também a situação de não-acidente a partir da exposição perigosa em situações laborais e os fatores humanos. Os próximos três capítulos que se seguem trazem reflexões sobre a qualidade do ambiente de trabalho e suas conseqüências. No capítulo nono destaque para a síndrome de Bornout com ênfase para as limitações que sofre um indivíduo acometido por Bornout, pois, são avassaladoras, existindo no indivíduo perda de aspectos importantes para sua permanência no mundo do trabalho como: vontade de estar no ambiente de trabalho, criatividade, senso de competência, sentido e significado do trabalho, tais aspectos exprimem um fator de expressiva ameaça à saúde da sociedade uma vez que o crescimento da síndrome está ligado a produtividade tanto no aspecto quantitativo quanto qualitativo e envolve especialmente aqueles profissionais que cuidam de outras pessoas, como é o caso específico de professores e psicólogos. No corpo do artigo encontramos conceito de síndrome de Burnout, suas características, causas, sintomas, conseqüências, prevenção e tratamento enquanto informações interessantes e esclarecedoras. O décimo capítulo trata do stress no trabalho: implicações para o trabalhador e para a empresa, o objetivo de tal artigo é chamar a atenção para responsabilidade da empresa em contribuir para que seus funcionários entendam, mais e cada vez melhor, sobre o stress ocupacional. O artigo traz em seu bojo, de forma clara e sintética, conceito, conseqüências do stress excessivo, alguns estressores que geralmente acometem os trabalhadores brasileiros e o significado de ser workaholic. O texto aponta para a necessidade urgente do trabalhador, com o aporte da empresa, de se responsabilizar pela própria promoção de uma vida mais saudável; melhor qualidade de vida na família, no trabalho, no lazer e na sociedade. Estes dois temas atualíssimos—Síndrome de Burnout e Stress no trabalho—são alvo, nesta obra, de detalhamento especificado e elucidativo. O décimo primeiro capítulo traz-nos reflexão sobre um assunto bastante espinhoso, o assédio moral no trabalho enquanto uma odisséia de sofrimento e incertezas trazendo aos leitores um esclarecimento sobre o que é o assédio moral no local de trabalho, as causas possíveis da violência moral no ambiente de trabalho, suas conseqüências e população de risco. O mundo do trabalho, no contexto atual, é um rico espaço de pesquisa, pois, a violência e o assédio moral se dão e se intensificam no contexto das novas políticas de gestão associadas à precarização do trabalho, a expropriação e flexibilização do trabalhador. Estes são três aspectos relevantes a serem analisados quando se pretende compreender, dar visibilidade social aos atos de violência perpetrados no mundo do trabalho e combatê-los. Por isso, destacamos aqui, a importância dos movimentos sociais comprometidos com a defesa da vida e saúde do funcionário, pois tais movimentos sustentam e acionam a legislação e normas a fim de afiançar nas organizações, pleitear e garantir, um ambiente de trabalho saudável, seguro, onde as relações éticas sejam os principais pilares. No último capitulo, porém não menos importante, podemos encontrar uma discussão sobre ética e trabalho na sociedade contemporânea, como significações imaginárias sociais, encontramos também uma analise da centralidade do trabalho industrial, a autora deste texto chama-nos a refletir sobre o trabalho, a ação, o sentido e ainda sobre a privatização, crise do sujeito, crise da ética. Enfatizamos que essas demandas laborais estão inseridas na lógica do capital humano, tema em destaque no momento atual, assim, concluímos que a obra como um todo é atraente, informativa e educativa pela atualidade das discussões e por sua abrangência. Por possuir textos independentes a leitura é tranqüila e de fácil compreensão. Para aqueles que desejam entender melhor a pedagogia institucional, esta obra é recomendada e pode servir para elucidar muitas questões importantes, pois, estimula, em quem lê, o exercício da reflexão em torno da dimensão da formação humana que permeia o ambiente—estações/postos—de trabalho e o trabalhador/a. O livro, ancorado em uma perspectiva de humanização, propõe a construção de processos mais humanizados na sociedade organizacional a partir do enfrentamento de temas e questões que fazem parte do mundo do trabalho e que hoje não podem ser ignoradas. Na atualidade onde vivemos a crise do capitalismo real, a precarização das relações de trabalho - expressa pelo esfacelamento dos direitos trabalhistas, expropriação do trabalhador e pela secundarização e fragilização do papel dos sindicatos—essa leitura e as preocupações externadas na obra apresentam-se de suma importância como sinalização de mudança e recursos para os trabalhadores, e também, para as organizações. A proposta do livro em relação à melhoria das condições de trabalho não afasta, entretanto, a necessidade de lutas e resistências que tem por objetivo a transformação radical dos modos de produção capitalista; ao contrário, pode significar mais uma estratégia que vise essas transformações, construção de uma sociedade democrática, igualitária, fundamentada nos direitos como igualdade, dignidade e justiça. Advogamos, neste sentido, que a obra é interessante, pois como nós, os autores anseiam por uma sociedade, onde se respeite as diferenças e a diversidade humana, sociedade esta que se preocupa em humanizar os ambientes/postos de trabalho, e é consciente de que o sentido da existência individual se apóia nos sentidos construídos coletivamente, portanto fazse mister pensar, e acima de tudo, buscar um projeto de construção comum da sociedade que queremos a partir de relações mais humanizadas no mundo do trabalho. Acerca da Autora da resenha: Cristina Borges é Doutoranda do Programa de Pós- Graduação em Políticas Públicas e Formação Humana Universidade do Estado do Rio de Janeiro - Bolsista da Fundação de amparo à pesquisa do Estado do Rio de Janeiro (Faperj/Brasil). Mestre em Pedagogia do Movimento - Faculdade de Educação Física - Universidade Estadual de Campinas/ SP-Brasil. cristinborges@oi.com.br |
Gentili, Pablo & Suárez, Daniel (Orgs.) (2004). Reforma educacional e luta democrática: um debate sobre a ação sindical docente na América Latina. São Paulo: Cortez.125 pp. ISBN 85-249-1091-7 Resenhado por Sandra Sales Abril 17, 2006 Reforma Educacional e luta democrática: um debate sobre a ação sindical docente na América Latina é muito mais que uma reflexão de seus organizadores, pois materializa os resultados de um intenso trabalho coletivo desenvolvido em vários países da América Latina, sob a coordenação do Observatório Latino-americano de Políticas Educacionais (OLPED) do Laboratório de Políticas Públicas (LPP), sediado na Universidade do Estado do Rio de Janeiro, no Brasil. Trata-se de uma sistematização das principais reflexões feitas no primeiro debate promovido pelo Fórum Virtual2 promovido pelo Fórum Latinoamericano de Políticas Educacionais (FLAPE), que além do OLPED, é composto por outras quatro instituições: Programa Interdisciplinar de Pesquisa em Educação do Chile (PIIE), Fórum Educacional do Peru (FE), Universidade Pedagógica Nacional da Colômbia (UPN) e Observatório Cidadão da Educação no México (OCE). O livro segue, em certa medida, a organização do Fórum Virtual, visto que apresenta um texto base elaborado pelos seus organizadores (“A polêmica”), que origina, por sua vez, quatro textos de discussão elaborados por membros ou grupos pertencentes às demais organizações que integram o FLAPE, além de um outro texto produzido pelos autores do texto base, que retoma, aprofunda e repensa, as observações e as críticas tecidas pelos textos de discussão (“O debate”). Integra também este livro, um último capítulo enfocando a pesquisa sobre conflitos educacionais na América Latina. A opção metodológica da pesquisa, fundada em enfoque quantitativo e qualitativo, resultou em uma extensa cronologia sobre os conflitos docentes nos 18 países estudados que foram levantados a partir de pesquisa feitas nos principais jornais de cada país, bem como em 5 estudos de caso realizados por pesquisadores da Argentina, Brasil, Equador, México e Peru. Foram utilizadas outras fontes como imprensa sindical, estudos e pesquisas, bem como foram realizadas entrevistas. Muito embora os organizadores da pesquisa destaquem as limitações da abordagem da pesquisa, pela sua incapacidade de “determinar dinâmicas específicas e certas características peculiares a cada caso nacional” (p.33), a metodologia adotada na referida pesquisa merece destaque. A abrangência da pesquisa, tanto em termos da quantidade de países investigados, quanto da extensão do período por ela coberto, permitiu a construção de um dos maiores bancos de dados sobre a conflitividade docente na América Latina, além de “oferecer uma visão de conjunto que pode contribuir para a reflexão crítica e rigorosa acerca de uma das questões mais polêmicas da pesquisa sobre políticas educacionais nos países da região” (p.33). Outro destaque se deve ao fato, não apenas, de nela recaíram muitas das críticas feitas pelos debatedores da Colômbia, Peru, México e Chile, mas, sobretudo por utilizar como um dos procedimentos metodológicos um estudo feito em grande parte na mídia, que se constitui um dos principais “formadores da opinião pública”, para usar um jargão utilizado pela própria mídia. Apreender e refletir sobre as tendências apresentadas pela mídia é, sem dúvida, uma tarefa fundamental para educadores e pesquisadores preocupados com a luta política e ideológica travada no interior das sociedades e comprometidos com a construção de uma sociedade verdadeiramente democrática. A mídia não é neutra. Apesar de algumas contradições, ela está longe de ser um instrumento polifônico, ou seja, está longe de contemplar as divergentes vozes presentes na sociedade, já que representa, via de regra, os interesses dos grupos dominantes. Nesse sentido, a pesquisa é extremamente oportuna, por dar relevância à voz das organizações sindicais do magistério, uma das vozes bastante silenciadas nas sociedades latino-americanas no contexto das reformas operadas pelos chamados governos neoliberais, que claramente seguem orientações de organismos internacionais como o Banco Mundial e o BIRD. Gentili e Suárez ao discutir a conflitividade docente, o fazem com a preocupação de contextualizá-la, já que se insere em um cenário de crise econômica e de ajustes estruturais. A primeira seção do texto base intitula-se “A reforma educacional como cenário do conflito” afirmando que nos últimos 20 anos houve, na América Latina uma “ampliação, diversificação e intensificação dos conflitos sociais e políticos”. Destaca-se nesse processo o setor sindicalizado (público e privado) como protagonista da maior parte dos movimentos e 3A pesquisa foi desenvolvida pelo Observatório Latino-americano de Políticas Educacionais (OLPED) do Laboratório de Políticas Públicas (LPP) no Rio de Janeiro e em Buenos Aires em conjunto com o Escritório Regional de Educação para a América Latina e Caribe (OREALC) da UNESCO (Santiago do Chile) resistências promovidos pelos governos neoliberais, dentre os quais chamam a atenção as lutas promovidas pelos setores docentes. Dentre o conjunto de informações e reflexões apresentados nessa primeira seção do texto base, os autores apresentam os principais temas em disputa entre sindicatos docentes e Estado, o principal antagonista das lutas travadas: condições salariais e trabalhistas de professores e mestres, o orçamento para a educação, a falta ou a precariedade de incentivos e estímulos econômicos para o setor, os acordos coletivos de trabalho do setor e outras normas que regulam o trabalho nas instituições educacionais e a questão da capacitação e do aperfeiçoamento profissional. A agenda apresentada pelos sindicatos docentes, apesar de ser considerada importante, foi também criticada pelos autores que a consideram reducionista, parcial, desarticulada e com resultados apenas de curto prazo. Para os autores tanto as políticas educacionais implantadas pelos governos neoliberais, quanto as respostas e reivindicações propostas pelo sindicalismo magisterial demonstraram a “ausência de uma perspectiva global e holística, que tenda a problematizar e articular em uma política docente integral as diversas dimensões envolvidas com a organização e gestão do exercício do ensino nas instituições educacionais” (p.24). Com relação à evolução e ao desenlace dos conflitos educacionais dos países da região, os autores fazem referência à existência de um “certo caráter cíclico”, que se materializa em um primeiro momento na confrontação através de greves e mobilizações protagonizadas pelo setor docente e seus sindicatos contra o Estado; dá-se em seguida a negociação; seguida por sua vez de acordos geralmente precários e de curto prazo; ocorre, na maioria dos casos, um período de relativa estabilidade; e, finalmente, fechando o ciclo, intensifica-se uma nova rodada de confrontações e conflitos. Na segunda seção do texto base Gentili e Suárez apresentam uma importante reflexão teórica que denominaram “Conflito educacional: a caminho de uma definição teoricamente ambiciosa”, onde se dedicam à conceitualização do conflito educacional e afirmam: “nossa noção de conflito educacional, baseia-se no caráter processual e dialético da conflitividade política. Ou seja, pretende analisar os processos que constituem e dão sentido à conflitividade”. (p.31). Na terceira seção é apresentada “Uma cronologia da ação sindical docente”, onde os autores disponibilizam, com riqueza de detalhes, os resultados obtidos e apontam algumas tendências. Para citar apenas um exemplo, considerado pelos autores como impactante, a pesquisa revelou que, no período investigado, os conflitos tiveram uma longa duração, ou seja, houve no período 4.802 dias de conflito educacional, o equivalente a 2,6 protestos por dia, considerando que o período analisado compreende 1.825 dias. Os países com maior número de incidência de conflitos Educacionais foram Argentina, Brasil e México. Nas “Considerações finais” os autores afirmam, com base na pesquisa realizada, que os processos das reformas educacionais levadas a cabo nos países da região, coincidiram com um “aumento notável da conflitividade educacional, convertendo-a no principal protagonista da crescente conflitividade social da região”.(p.45). O texto faz referência às chamadas “políticas de acordo” implementadas no período, centradas principalmente nos mecanismos de descentralização da gestão das escolas e na criação de instâncias de acordo e negociação, que por sua vez, se mostram contraditórias às políticas de currículo e avaliação homogeneizadoras centralmente desenhadas. Gentili e Suárez se questionam sobre a efetividade das políticas de acordo diante das intensas e prolongadas lutas que acompanharam todo o período das reformas educacionais. Interrogam-se ainda se tais políticas se constituíram em verdadeiros instrumentos de deliberação coletiva ou se pelo contrário, se constituíram em mecanismos de legitimação de discurso e da reforma educacional. Reforma educacional e luta democrática Sobre “O debate”, que se travou a partir do texto base os autores ressaltam que os textos produzidos pelos debatedores da Colômbia, Peru, México e Chile, apesar das divergências, concordam entre muitos aspectos, nos seguintes: na necessidade de contextualizar historicamente os conflitos educacionais; no entendimento de que a abordagem da conflitividade social e educacional deve ser mais profunda e complexa e, conseqüentemente, mais integral e dinâmica; na centralidade das lutas educacionais no campo do conflito social; na compreensão de que no âmbito da problemática educacional os docentes e suas organizações assumiram o protagonismo (embora não exclusivo), enquanto os governos se constituíram os principais antagonistas. Pode-se afirmar que todos os textos de discussão contribuíram para o aprofundamento da questão da conflitividade educacional, utilizando para isso pelo menos duas diferentes estratégias discursivas e argumentativas. A primeira, adotada pelos debatedores colombiano e peruano, consiste em apresentar e analisar aspectos da conflitividade educacional em seus países. A segunda estratégia priorizou ressaltar e criticar aspectos teóricos, conceituais e metodológicos da pesquisa, sendo os casos nacionais utilizados apenas para ilustrar e exemplificar os argumentos utilizados por seus autores. Finalizando o debate, mas sem pretender encerrá-lo ou esgotá-lo, Gentili e Suárez apresentam “Novas e não tão novas questões sobre os conflitos educacionais na América Latina: algumas respostas e questionamentos”. Além de reagirem às críticas feitas ao texto base, os autores apresentam uma série de “dimensões, eixos e questionamentos para futuras pesquisas e debates”, identificados por eles nos textos de discussão, dentre os quais destacase: “o peso relativo da conflitividade educacional no contexto mais geral da conflitividade social latino-americana e da implementação de políticas e reformas neoliberais”; “o peso relativo dos enfrentamentos entre sindicalismo magisterial e o Estado, no contexto mais geral da intensa conflitividade educacional vivida nos países da região”; “a existência de outros conflitos e tensões que, no campo educacional, agregam-se de forma direta e indireta às reivindicações do magistério ou, em alguns casos, são totalmente a ele”. A última parte do livro é dedicada à pesquisa sobre conflitos educacionais na América Latina e se subdivide em 3 seções: “Acerca das fontes de pesquisa bibliográfica sobre movimento sindical na América Latina”; “Banco de dados sobre a ação sindical docente na América Latina” e Organizações sindicais docentes na América Latina”. Reforma Educacional e luta democrática: um debate sobre a ação sindical docente na América Latina é, sem dúvida, um importante trabalho para sindicalistas e pesquisadores, mas também para todos os educadores preocupados com o rumo da educação em seus países, mesmo que não sejam militantes ou sindicalizados.
A cerca dos autores do livro Daniel Suarez é professor da Universidade de Buenos Aires e coordenador executivo da sede de Buenos Aires do LPP. Desenvolve um amplo projeto de pesquisa sobre memória e documentação do trabalho docente. Publicou diversos artigos em vários países da América Latina, sobre políticas educacionais, reformas curriculares e formação de professores.
A cerca da resenhadora do livro
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Reseñas Educativas/Education Review |
Gentili, Pablo & McCowan, Tristan. (2003). Reinventar A Escola Pública: Política Educacional Para Um Novo Brasil. Petrópolis, Brasil: Editora Vozes- LPP-OLPED.ISBN: 853262936-9 272 pp.
Resenhado por
Março 29, 2005 13 Documentos Históricos – Expectativas, lutas e sensibilidade... Todos os que tomarem contato com a obra Reinventar a escola pública: política educacional para um novo Brasil – organizada por Pablo Gentili e Tristan McCowan – lançada ao final de 2003, pelo Laboratório de Políticas Públicas da UERJ e pela Editora Vozes, poderão notar o cuidado com que foi selecionada e apresentada a coletânea dos importantes documentos que a compõe. A obra, segundo os organizadores, apresenta “Um conjunto de textos que nos ajudam a pensar o rumo das novas políticas educacionais numa era pós-neoliberal. [...] Trata-se de materiais que, em sua multiplicidade, compartilham um diagnóstico crítico acerca da herança recebida depois de uma era de políticas de ajuste, bem como de esperançada e ambiciosa proposta de transformação que reconhece que, apesar disto, uma outra política educacional é hoje, no Brasil, possível e necessária.”(2003, 11) Além da importância histórica, que cada um dos documentos reserva a pesquisadores, militantes e interessados na área da educação, a seleção dos textos realça os diferentes esforços coletivos empreendidos por grupos, movimentos sociais, fóruns, partidos e personalidades para a elaboração dos mesmos. Além disso, os leitores sempre encontrarão, de forma sistemática, uma breve apresentação que contextualiza o momento político, o local e o modo de elaboração dos importantes documentos selecionados (na forma de resultados de encontros, congressos, manifestações e eventos), assim como nos conteúdos destes documentos o que eles representavam diante da expectativa de mudanças das políticas educacionais até então vigentes. Dividida em oito capítulos a obra apresenta ao leitor 13 documentos em forma de projetos, manifestos, relatórios, cartas, declarações, de importante significado social e político na área educacional, quase sempre precedido de uma apresentação contextualizada, em geral, elaborada por organizadores, representantes e integrantes dos respectivos eventos ou estudiosos da área de política educacional. Os 13 textos históricos, por conterem múltiplas manifestações contra uma política educacional, vigente de 1995 até 2002, apresentam-se críticos e propositivos em diversos aspectos, alguns em termos mais gerais, outros de forma mais específica. Contudo, o fato de Lula ter ganhado as eleições em outubro de 2002, também os transformou em documentos de aguda esperança e certa “expectativa desconfiada” dos rumos que a educação do país iria tomar. Mesmo em seu prefácio da obra, Pablo Gentili, com fina sensibilidade e entusiasmado com os resultados eleitorais, expressa – numa espécie de “balança política”, entre uma atitude esperançada e uma perspectiva realista e pragmática –, a pergunta: “Será que o Governo de Lula irá nos trair?”. Naquele momento – 27/10/2002 –, sua resposta foi “Talvez haja motivos para pensarmos que sim. Mas a pergunta não deixa de ser irrelevante se a abstrairmos das condições e construções que nos permitiram chegar até aqui. Quando a formulamos travestida de ação desencantada diante das possibilidades efetivas que os povos têm de ser, eles mesmos, os verdadeiros donos de sua própria história.” (2003, p.16) Como já foi mencionado, a obra está organizada em oito capítulos. No Capítulo 1, denominado “Um Projeto Político-Educacional para o Novo Brasil” com a apresentação da Profa Dra Dalila Andrade Oliveira, da UFMG, encontra-se o documento “Uma escola do tamanho do Brasil”, elaborado pelo Grupo de Trabalho da Área de Educação e Ciência e Tecnológica do Partido dos Trabalhadores (PT), coordenado por Newton Lima Neto, como o Programa do Governo Lula para as áreas da Educação e Ciência e Tecnologia. O capítulo 2 – “Educação Democrática e Luta pela Terra” – apresentado por Tristan McCowan (LPP/UERJ) é composto por três textos: “Nossa concepção da escola”, elaborado pelo Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST) em 1999; pelo “Manifesto das Educadoras e dos Educadores Reforma Agrária ao Povo Brasileiro”, resultado do I ENERA – Encontro Nacional de Educadores e Educadores da Reforma Agrária –, ocorrido em julho de 1997 e pela “Declaração 2002 e Proposta da Ação para o novo Governo”, fruto do Seminário Nacional por uma Educação do Campo, realizado em novembro de 2002. No capítulo 3 “O Direito à Educação” é destacado o documento da “Campanha Nacional pelo Direito à Educação”, que enfoca o déficit financeiro que o país possui com a educação nacional e suas repercussões derivadas e é apresentado por Denise Carreira, Coordenadora da Campanha (agosto de 2003). O capítulo 4 – “Governo Local e Educação” – destaca o texto da União Nacional dos Dirigentes Municipais de Educação (UNDIME), intitulado “A Educação Municipal Apresenta suas Propostas para uma Educação de Qualidade”, redigido em agosto de 2002 e enviado como reivindicações e propostas aos candidatos a Presidência da República naquele pleito eleitoral. Quem faz a sua apresentação é Fátima Lobato do LPP/UERJ. No capítulo 5, são apresentados por Sandra Sales do LPP/UERJ, os “Desafios à Educação de Jovens e Adultos” na forma de três documentos: 1) “Relatório-Síntese do IV ENEJA”, produto do IV Encontro Nacional de Educação de Jovens e Adultos, realizado em agosto de 2002; 2) “Manifesto ao Presidente Eleito Luiz Inácio Lula da Silva”; elaborado em dezembro de 2002; e 3) “Carta ao Ministro da Educação Cristóvan Buarque”, produto do 3º Encontro Nacional de MOVAs (Movimento de Alfabetização de Jovens e Adultos), realizado em agosto de 2003. O capítulo 6, denominado de “Educação, Democracia e Qualidade Social”, expressa a temática central que, desde 1996, tem marcado as sucessivas edições do Congresso Nacional de Educação (CONED), organizadas pelo Fórum Nacional em Defesa da Escola Pública (articulação nacional de entidades, movimentos e representações que participam da luta em defesa da escola pública desde o processo constituinte, em 1987). Com a apresentação de Maria da Graça Nóbrega Bollmann – Presidente da Associação de Educadores da América Latina e Caribe e Membro da Secretaria Executiva dos I, II e IV CONED – mereceu destaque neste capítulo a “Carta de São Paulo, Agenda Política e Plano de Lutas do 4º CONED”, importante documento que resgata pontos essenciais do Plano Nacional de Educação – Proposta da Sociedade Brasileira, o qual foi proposto como projeto de lei, em oposição ao elaborado pelo MEC, em 1998, ao Congresso Nacional, como resultado democrático dos I e II CONED, organizado pelo Fórum Nacional em Defesa da Escola Pública nos anos de 1996 e 1997, em Belo Horizonte. O capítulo 7, denominado “A Luta dos Povos por uma Educação Democrática” também reúne três importantes documentos. Os dois primeiros, apresentados por Leslie Campaner de Toledo, que é membro da Comissão Organizadora do Fórum Mundial de Educação foram a “Carta de Porto Alegre pela Educação Pública para todos”, como produto do I Fórum Mundial de Educação e a “Declaração de Porto Alegre”, do II Fórum Mundial da Educação. Além destes, com a apresentação de Ana Lacombe, do LPP/UERJ, também de encontra no mesmo capítulo o “Discurso do II Fórum Mundial da Educação” do então Ministro da Educação, recém empossado, Cristóvan Buarque. O capítulo 8 é um texto de Pablo Gentili cujo título é “Por uma Pedagogia da Esperança”. Novamente, com muita sensibilidade, Gentili traça alguns desafios, que qualificam a “Pedagogia da Esperança” e que as educadoras e os educadores precisam enfrentar na cotidianidade de seus trabalhos, a saber: a pedagogia da esperança é, por definição, uma pedagogia da igualdade e pela igualdade; a pedagogia da esperança se sustenta nos princípios de uma ética solidária e militante; a pedagogia da esperança só se constrói quando a qualidade educacional não se reduz a critérios de produtividade acadêmica, senão que se afirma na ampliação do direito social à educação e na luta contra o monopólio do conhecimento; a pedagogia da esperança é, por definição, uma pedagogia do exercício substantivo e real da democracia; e, finalmente, a pedagogia da esperança é uma pedagogia onde o impossível se constrói, utopicamente, com um olho no passado-presente e outro no futuro. Na prática, trata-se de uma obra militante, que busca destacar nos textos selecionados as diferentes esperanças materializadas na forma de reivindicações, manifestações e novas conceitualizações em defesa da educação pública no Brasil e torná-las públicas, presentes e permanentes. Em quase todos os documentos há expressões comuns que propõem mudanças significativas na concepção de educação pública; na função social da escola pública; no seu padrão de financiamento, na gestão democrática do ensino e da educação nacional e, especialmente, na forma como os educadores são tratados nos mais variados níveis e modalidades da educação nacional. Em quase todos documentos se expressa de forma contundente a questão da necessidade de maior atenção para com a educação nacional, por parte das autoridades estabelecidas, especialmente no que diz respeito à bandeira da ampliação das verbas públicas para aplicação nas escolas públicas, nos diversos níveis e etapas da educação nacional. É extremamente significativo detectar a presença da crença – na esperança e na luta – revelada nos diferentes documentos, que guardava alguma sintonia com o documento da campanha eleitoral do governo Lula em 2002: “Uma escola do tamanho do Brasil”. De um lado, isto revela a dimensão da crença no posicionamento que compete aos movimentos organizados, da defesa de seus interesses e da dedicação de forma ampliada à defesa do direito de todos à educação, entendendo-o como um incontestável dever do Estado. De outro lado, expressa o posicionamento dos movimentos diante do poder, revelando a necessidade de superação do modelo político educacional vigente há muito no país, mas especialmente, nos dois governos de FHC. Como já foi dito é uma obra de caráter histórico-militante, que procura manter acesa a memória recente, envolvendo os compromissos estabelecidos em documentos e a chama dos movimentos de educação em uma árdua, mas também sensível tarefa: “Reinventar a escola pública”, construindo uma nova política educacional para um novo Brasil...
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Reseñas Educativas/Education Review
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Haydon, Graham. (2003). Enseñar valores: Un nuevo enfoque. Madrid: Ediciones Morata.222 pp. Reseñado por Antonio Bolívar
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